Aula inagural: Imperialismo ou Terrorismo de Estado

Compas, é com grande satisfação que anunciamos a nossa aula inaugural, que vai ocorrer no dia 16 de março, às 9 horas, na Fundação Julita, rua Nova do Tuparoquera, 249 – Jardim São Luís, São Paulo.

Esse ano o tema da aula vai ser “Imperialismo ou Terrorismo de Estado: Haiti, Venezuela, Palestina e a PM de São Paulo”.

Para quem não sabe, o povo haitiano se levantou contra o governo e o imperialismo americano em solidariedade ao povo venezuelano. Desde 2006, a Venezuela fornecia petróleo ao Haiti a preço baixíssimos como forma de saldar a dívida histórica que a Venezuela tinha com o povo haitiano, já que eles ajudaram a Venezuela a conquistar a independência no século XVIII.

Segue abaixo a notícia vinda de Porto Príncipe, capital do Haiti, sobre as revoltas que estão acontecendo lá.

Haitianos se levantam contra a intervenção na Venezuela.

12 de fevereiro, em Champ de Mars de Porto Príncipe, um manifestante haitiano levava uma bandeira venezoelana em solidariedade com a revolução bolivariana. A atual insurreição no Haiti é consequência da fome e da ira reinante, mas também da traição de Jovenel Möise a Nicolas Maduro. Daniel Tercier, Haïti Liberté.
Há sete dias reina o caos no Haiti. Os haitianos continuam revoltados em todo o país contra o presidente Jovenel Moïse para derrotarlo por sua corrupção, sua arrogância, suas promesas não cumpridas e suas mentiras declaradas. Mas a crise não se solucionará com a renuncia de Moïse, que parece ser iminente.
A revolução de hoje em dia mostra claros sinais de ser tão profunda e imparável como a que aconteceu há 33 anos quando acabou o regime do ditador e playboy Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, depois de dois meses de rebelição, cuja fuga do Haiti a bordo de um avião de carga C-130 da Força Aérea dos Estados Unidos , em 7 de fevereiro de 1986. Esse foi o início de cinco anos de revoltas populares.
Apesar da feroz repressão, as chacinas, falsas eleiçoes e três golpes de Estado, essa rebelião terminou numa importante revolução política em 16 de dezembro de 1990, quando o teólogo da libertação e antiimperialista, Jean-Bertrand Aristide foi eleito presidente de maneira incontestável, vindo a assumir o cargo em 7 de fevereiro de 1991, quando declarou a “segunda independencia” do seu país.
No tempo em que os sandinistas de Nicaragua e a União Soviética acabavam de ser derrotados, o povo haitiano venceu a engenharia eleitoral de Washington pela primeira vez na América Latina, depois da vitória de Salvador Allende no Chile, duas décadas antes. O exemplo do Haiti inspirou o jovem oficial do exército da Venezuela, Hugo Chávez. Que adotou o mesmo roteiro que deu início a uma “maré esquerdista” de revoluções políticas mediante triundos eleitorais na América Latina.
Assim como Washington tentou um golpe contra Aristide em 30 de setermbro de 1991, organizou outro similar contra Chávez, em 11 de abril de 2002. Mas, nesse caso, a jogada foi frustrada em dois dias pelo povo e pelos soldados razos do exército regular da Venezoela.
Apesar da vitória obtida, Chávez compreendeu que a revolução política de 1998 na Venezoela, que tinha o levado ao poder, não poderia sobreviver sozinha, que Washington iria utilizar todo maquinário subversivo e econômico para desgastar seu projeto de fundar o “socialismo do século XXI” na Venezoela, e que para Chavez a revolução teria que construir pontes que mostrasse um exemplo aos seus vizinhos latinos americanos que também eram dominados pelo Tio Sam
Desse modo, utilizando a enorme riqueza do petróleo, Chavez começou um experimento que não tinha precedentes: a Aliança PetroCaribe – lançada em 2005 – que acabou abarcando a 17 países da América Central e insulares do mar Caribe. Essa aliança assegurou derivados do petróleo a preços baixos aos seus habitantes e fabulosas condições crediarias aos países membros, que significou uma importante ajuda econômica nos momentos em que o petróleo cru estava sendo vendido a 100 dólares o barril. Em 2006, Washington castigou o povo haitiano por ter dado duas vezes (1990 e 2000) seu voto a Aristide com golpes de Estado (em 1991 e 2004), e outras tantas ocupações militares com a benevolência das Nações Unidas. O povo haitiano conseguiu retribuir na mesma moeda ao eleger René Préval (antigo aliado de Aristide) como presidente.
Na cerimônia de posse, em 14 de maio de 2006, Préval ratificou o tratado do PetroCaribe, que irritou profundamente a Washington, como apontou Haïti Liberté em seu informe de 2011, baseado em cabos diplomáticos secretos obtidos por WikiLeaks. Préval, depois de dois anos de tentativa, conseguiu finalmente que Venezoela fornecesse petróleo e crédito, mas Washington o advertiu que também seria castigado. Depois do terremoto no Haiti, em 12 de janeiro de 2010, o departamento de Estado, e então chefe da Comissão Provisória de Recuperação do Haiti, Bill Clinton, junto com alguns outros lacaios da elite haitiana, praticamente se fizeram governo do país, e no processo eleitoral de novembro de 2010 a março de 2011 despejaram o canditado presidencial de Préval, Jude Célestin, e colocaram o seu próprio: Michel Martelly.

Entre 2011 e 2016, o grupo às ordens de Martelly arrasaram com a maior parte dos fundos do PetroCaribe, que fundamentalmente haviam mantido o Haiti desde sua criação, em 2008.
Além disso, Martelly usou esse dinheiro para ajudar ao seu protegido, Jovenel Moïse, que voltou ao poder em 7 de fevereiro de 2017. Desgraçadamente para Moïse (que chegou ao poder ao mesmo tempo que Donald Trump), estava a ponto de se converter em um dano colateral na escalada bélica contra Venezoeala.
Trump, rodeado de uma quadrilha de neocons anticomunistas, se apressou a hostilizar a república bolivariana, impondo sanções econômicas de longo alcance ao governo de Nicolás Maduro. Haiti já hávia atrasado os pagamentos que deveria fazer à Venezuela, mas as sanções de Estados Unidos convertou a fratura do petróleo de PetroCaribe em algo impagável; assim, de fato, a Aliança PetroCariba acabou em outubr de 2017.
A vida no Haiti que já era extremamente difícil, agora é praticamente impossível. Fechando o gargalo de petróleo venezuelano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) determinou a Jovenel Moïse que deveria aumentar o preço do gas, e este tentou fazê-lo em 6 de julho de 2018. O resultado foi um levantamento popular que durou três dias, percursor da revolta atual.
Mais ou menos nesse mesmo momento, um movimenot de massas começou a perguntar sobre o que aconteceu com os 4 bilhões de dólares que o Haiti recebeu na década passada pelo petróleo venezuelano: “Kot kòb PetroCaribe a?”, em língua criolla falada nesse país (onde esta o dinheiro do PetroCaribe?), era o grito de cada vez mais milhares de manifestantes. Acreditava-se que os fundos do PetroCaribe deveriam financiar a saúde, a educação, a construção e a manutenção de estradas, e outros processos socais, mas o povo nunca viu nada disso ser cumprido. Duas investigações do Senado foram realizadas em 2017, e confirmaram que o dinheiro (segundo o informe pode chegar a 1 bilhão 700 milhões de dólares) habia sido desviado aos bolsos de algumas pessoas.
Então, qual foi a gota que derramou o copo? Foi a traição de Jovenel Moïse aos venezuelanos depois da exemplar solidariedade. Em 10 de janeiro de 2019, em uma votação realizada na Organização de Estados Americanos (OEA), Haiti votou a favor de uma moção apresentada por Washington que declarava a “ilegitimidade” de Nicolás Maduro, depois que ele ganhou as eleições em maio de 2018 com mais de dois terços dos votos.
Os haitianos já estavam cansados da corrupção desenfreada, pela inflação e o desemprego desparados, e frustrados depois de anos de promessas não cumpridas, de humilhação e violência por parte das forças armadas estrangeiras. Mas essa espetacularmente cínica traição de Jovenel e seus comparsas, em uma tentativa de ganhar o apoio de Washington, para protegê-los das fogueiras que ardem atrás deles, foi a gota de água que faltava.
Surpreendido e paralisado pela falta de opções – e suas próprias disputas internas-, Washington está olhando com horror a previsível caída da corrompida construção política e econômica que se tomou o Haiti de assalto nos últimos 28 anos, desde o primeiro golpe de Estado contra Aristide, em 1991, até o recente golpe de Estado eleitoral que levou a Jovenel à cadeira presidencial em 2017.
Com toda segurança, a embaixada de Estados Unidos esta tentando improvisar uma solução de emergência com ajuda das Nações Unidas, da OEA, Brasil, Colombia e a elite haitiana. Mas é provável que os resultados não sejam mais permanentes que aqueles conseguidos nos anos oitenta do século passado
Ironicamente foi a solidariedade de Venezuela que atrasou durante uma dédade o furacão político que hoje atinge o Haiti.
É preciso destacar que a agressão estadounidense contra a revolução bolivariana de Venezuela, deu origem a uma cachoeira de consequências e reações não buscadas alimentadas pelo profundo sentido de gratidão e reconhecimento dos hiatianos pelo socorro venezuelano recebido; como Hugo Chavez e Nicolás Maduro disseram frequentemente: PetroCaribe foi a forma de “cancelar a dívida histórica que a Venezuela tinha com o povo de Haiti”.
* O original em inglês dessa nota foi publicado em 13 de fevereiro de 2019. (N. del T.)
Fonte: https://haitiliberte.com/haitis-unfolding-revolution-is-directly-linked-to-venezuelas/

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